Ex-presidente da Câmara confessou como foi montado o esquema para desviar os recursos da Santa Casa de Misericórdia
Ainda presos, respectivamente, no Presídio Regional de Araxá e aquartelado no 37º Batalhão da Polícia Militar, os vereadores afastados, Miguel Junior e José Gaspar Ferreira de Castro (Pezão), e Amilton Marcos Moreira (Sargento Amilton), devem prestar novos depoimentos nessa semana.
Foi o que explicaram César Felipe Colombari, Delegado Regional e Cristiano Dib, Delegado que dirige as operações que investigam os desvios de recursos na Santa Casa de Misericórdia de Araxá, no Alto Paranaíba.
Em coletiva para a imprensa na tarde de segunda feira (17), eles contaram que o ex-presidente da Câmara, Miguel Junior, confessou como montou o esquema de desvios da entidade, porém, Amilton e Pezão ainda não falaram tudo que sabem sobre o caso. “Há provas de que sabem mais coisas, de que estão envolvidos em mais coisas, e ainda negaram, mentiram, referente ao que a Polícia já tem eventualmente comprovado”, diz Colombari.
Três pessoas foram presas na segunda feira: um assessor do ex-vereador Miguel Junior e duas mulheres que trabalhariam na Santa Casa. Esses acusados teriam emprestado suas contas correntes para descontar os cheques provenientes dos desvios. As duas mulheres prestaram depoimentos e foram liberadas, já o assessor de Miguel, continua preso. “Elas assumiram que tiveram suas contas bancárias utilizadas, cada uma justificando os seus motivos”, conta Cristiano Dib.
“O assessor, em que pese ter dado vários outros elementos indevidos praticados enquanto Miguel Junior exerceu a presidência da Câmara e a Prefeitura de Araxá interinamente, ele negou a ciência e participação no caso de desvios da Santa Casa, mas há provas, inclusive documental, de que ele teve sim participação efetiva na lavagem desse dinheiro e distribuição para o vereador Miguel Junior”, disse o delegado regional.
Na medida em que o Prefeito Interino da época, Miguel Junior, liberava recursos para a Santa Casa, era determinado um valor que teria que retornar para ele. Dentro desse esquema, mais pessoas foram beneficiadas pelos desvios do dinheiro público.
A partir daí, nesse caso, eles simularam uma compra de materiais, com notas que não correspondiam efetivamente a essas mercadorias adquiridas, para que os cheques da Santa Casa fossem levados as posses dessas pessoas, depositados nessas contas bancárias e assim eles tinham o acesso a essas quantias. “A Polícia Civil tem já elementos para dizer que todos os três envolvidos tiveram sim contraprestação ou de outra forma, para emprestar essas contas para tentar lavar o dinheiro”, afirma César Felipe.
“Miguel Junior confessou que durante a visita do administrador da Santa Casa ao seu gabinete, foi criado esse esquema para que esse dinheiro retornasse para ele. Por parte dos outros dois vereadores, não houve confissão”, explica Cristiano.
Participações, confissões e outros crimes
Sobre a participação do provedor, Kleber Pereira Valeriano, e do Tesoureiro da Santa Casa, Antônio Nogueira, o delegado regional conta que eles tinham como dever, de evitar que um dinheiro de corrupção, fosse inserido no patrimônio da Santa Casa e que esse dinheiro voltasse para Miguel Junior.
“Desde o início eram sabedores, pelas provas constantes nos autos, de que esse valor tinha uma origem ilícita, porque parte dele deveria ser destinada ao prefeito interino da época. Então, cientes disso, a omissão deles, pelo código penal, caracteriza uma associação para a prática do crime, logo participaram do delito”, ressalta o regional.
A confissão plena de Miguel Junior, segundo a PC, pode caracterizar que ele esteja acobertando outras pessoas. Os acusados podem ser indiciados, inicialmente, por peculato, organização criminosa e falsidade ideológica. São nessas linhas que PC e Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) vêm trabalhando. Serão feitas novas investigações e o inquérito serviu também para colher indícios, que apontam a participação em outros crimes e outros investigados.