Salários insignificantes, falta de pagamento de direitos e empresas que fecham antes de quitar débitos com trabalhadores, serão ainda mais recorrentes com a terceirização
O rebaixamento moral e social da classe trabalhadora. Salários ainda mais desonrosos, ridiculamente baixos em relação ao serviço prestado e à remuneração, já defasada, que se paga atualmente. O fim dos direitos trabalhistas e o fortalecimento de um sistema onde os salários pagos seriam insuficientes para suprir necessidades básicas dos trabalhadores. A inexistência e ineficiência de movimentos que lutam por melhorias nas condições de trabalho.
Empresas mais ricas. Empresários com maior poder de manipulação de governos, lideranças políticas e autoridades. Governos, partidos, estatais e instituições criando regras para atender interesses exclusivamente empresariais em troca de financiamentos econômicos lícitos e ilícitos. Um país cada vez mais elitista, onde a diferença entre as classes sociais será ainda mais gritante. Uma nação miserável devido as péssimas condições de trabalho e salários pagos. Uma queda na qualidade da mão de obra. O maior massacre ao povo e a classe trabalhadora após a ditadura.
Esse é um resumo simples da tentativa do Congresso Brasileiro em aprovar leis a favor da terceirização, como por exemplo, o projeto de lei 4330/2004, que libera a precarização em todas as atividades das empresas, aprofundando a incidência de um modelo de gestão que já se comprovou nocivo aos trabalhadores, ou qualquer outra proposta de legislação semelhante, como é o caso do PLS 87, que também precariza as relações trabalhistas e enfraquece a organização sindical, considerado historicamente como um dos principais atores no desenvolvimento social e trabalhista deste país.
O momento é de intensificar a luta de combate aos projetos de terceirização, seja eles quantos forem. O hora é de convocar a sociedade brasileira, o povo brasileiro, para uma luta que não prejudica somente movimentos classistas, organizações sindicais, ou altera as relações de trabalho. A terceirização com normas que atingem empresas privadas, empresas públicas, sociedades de economia mista, produtores rurais e profissionais liberais, significa o retrocesso do nosso país. É retornar a períodos onde a pobreza e a miséria predominava assustadoramente. Salários insignificantes, falta de pagamento de direitos trabalhistas e empresas que fecham antes de quitar débitos com trabalhadores, serão ainda mais recorrentes.
Está claro quais são os reais interessados em aprovar projetos que precariza as relações trabalhistas. Empresários e empresas relacionadas a políticos argumentam em defesa da lei apresentando benefícios e dados meramente ilustrativos, com estimativas que jamais serão alcançadas e sem sequer considerar a qualidade de vida dos trabalhadores, o desenvolvimento social do país, os impactos negativos com a queda do poder aquisitivo da grande maioria da sociedade brasileira, dentre outros fatores já vivenciados em períodos de profunda pobreza econômica, cultural e social.
O grande fôlego que precisamos dar nessa luta contra a terceirização é lembrar ao nosso povo as dificuldades que vivemos em épocas onde as relações trabalhistas eram ainda mais precárias, onde salários eram insuficientes, empregos eram escassos, mão de obra desqualificada, péssima qualidade do serviço prestado e a estabilidade financeira era praticamente inexistente.
Ainda não conseguimos dimensionar à sociedade o tamanho do problema e o perigo do projeto em debate. Faltam exemplos práticos, ilustrativos, do crime que a terceirização cometerá contra nosso país e do massacre que será da classe trabalhadora. Temos que apreender a mobilizar pessoas em um mundo que está constantemente em mudança. Entender o atual processo de comunicação e de mobilização social é o primeiro passo.
Essa luta não é somente da organização sindical. Não é uma briga entre trabalhadores e empresários. A bandeira contra a terceirização é uma luta do povo brasileiro!
* Artigo escrito pelo sindicalista Hely Aires, presidente licenciado do Sindicato dos Servidores Municipais de Araxá e Região (Sinplalto), diretor de comunicação da Nova Central Sindical dos Trabalhadores de Minas Gerais (NCST-MG), secretário Interestadual da Fesempre e secretário nacional do plano dos trabalhadores em segurança e saúde no Trabalho da Confederação Nacional dos Servidores Públicos do Brasil (CSPB).