Adélia Prado é contemplada na categoria Conjunto da Obra que, pela primeira vez, seleciona uma mulher para agraciar
A Secretaria de Estado de Cultura (SEC) publicou o resultado do Prêmio do Governo de Minas Gerais de Literatura 2016. Na categoria Ficção (Romance) a obra vencedora foi “Floresta no fim da rua”, de Silvio Rogério Silva.
As menções honrosas foram para a obra “Começo em mar”, da escritora Vanessa Maranha, e para “Pela primeira vez em muito tempo”, de Vinícius Bopprê Oliveira. Já na categoria Poesia a obra vencedora foi “Um carro capota na lua”, do autor Tadeu de Melo Sarmento. O Jovem Escritor dessa edição é Jonathan Tavares Diniz, que venceu com o projeto “Cólera”.
A mineira Adélia Prado é a vencedora do prêmio na categoria Conjunto de Obra. É a primeira vez que uma mulher ganha a premiação nesta categoria. Adélia foi escolhida, por unanimidade, pelo júri composto pelos professores Guiomar de Grammont (Ufop), Ruth Silviano Brandão (UFMG) e Luis Augusto Fischer (UFRS). A cerimônia de entrega do prêmio irá ocorrer na capital mineira em data a ser marcada.
Ao todo o Prêmio do Governo de Minas Gerais de Literatura distribui a quantia de R$ 258 mil, sendo R$ 30 mil para a categoria Ficção, R$ 30 mil para Poesia, R$ 48 mil na categoria Jovem Escritor e R$ 150 mil na categoria Conjunto da Obra.
Escritas inovadoras
Segundo Ruth Silviano Brandão, a obra de Adélia Prado inaugurou na literatura brasileira uma poesia que se abriu para o feminino, o erotismo e o místico. E com uma dose de humor que aponta para o cotidiano e para a simplicidade, sem nunca cair na facilidade dos estereótipos e que permanece com seu vigor na cena literária.
“A obra de Adélia revela um trabalho de escrita inovador, às vezes paradoxal e surpreendente, até o momento atual, pois, como afirma em um de seus poemas, ‘A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,/foi inventada para ser calada’”, afirma a professora Ruth.
Guiomar de Grammont não poupa elogios quando o assunto é a poesia de Adélia. “Em sua obra se imbricam o sagrado e o profano, as referências clássicas e cotidianas, em um quadro simbólico de peculiar originalidade, trazendo para a literatura as imagens que caracterizam o imaginário barroco”.
Já para o professor gaúcho, Adélia é uma das escassas figuras de indiscutível primeiro plano na literatura brasileira atual. “Ela é autora de obra relevante em todos os sentidos cabíveis: não é desconhecida de nenhum leitor culto, conta com muitos leitores apaixonados, é objeto de importantes estudos acadêmicos e empolga até na forma adaptada para teatro”, afirma Fischer.
O secretário de Estado de Cultura, Angelo Oswaldo, destaca o fato de o prêmio, com dimensão nacional, ser atribuído pela primeira vez a uma mulher, sendo ela uma mineira. Para o secretário, no entanto, “é pleonasmo dizer que Adélia é mineira, pois a alma de Minas Gerais está guardada no seu coração de poeta”.
Para Lucas Guimaraens, superintendente de Bibliotecas Públicas e Suplemento Literário, jogar luz sobre novos talentos é outra importante faceta da premiação.
“As categorias ficção e poesia enfatizam e dão visibilidade a escritores com uma trajetória literária reconhecida, afetando diretamente toda a cadeia produtiva e criativa do livro. Na categoria Jovem Escritor é talvez aquela de maior impacto direto junto aos criadores que, no caso, são escritores jovens que nunca tiveram livros publicados e que, possivelmente, terão a partir desse agraciamento uma maior visibilidade e possibilidade de desenvolver a sua obra a partir da bolsa recebida pelo contemplado”, diz Guimaraens.
Mineira de Divinópolis, Adélia nasceu em 1935. Formou-se em Magistério e Filosofia. Em 1976, publicou “Bagagem”. Já em 1978 foi a vez de “O coração disparado”, agraciado com o Prêmio Jabuti. Sua estreia em prosa se deu no ano seguinte, com o livro “Solte os cachorros”.
Em seguida publica “Cacos para um vitral”. Em 1981 lança “Terra de Santa Cruz”, e em 1984 “Os componentes da banda”. Em 1991 é publicada sua “Poesia reunida”. Em 1994, após anos de silêncio poético, ressurge com o livro “O homem da mão seca”. Em 1999 são lançados “Manuscritos de Felipa”, “Oráculos de maio” e sua “Prosa reunida”.
Histórico
O Prêmio do Governo de Minas Gerais de Literatura foi lançado em dezembro de 2007 pela Secretaria de Estado de Cultura. Seu objetivo é promover e divulgar a literatura brasileira, reconhecendo grandes nomes nacionais e abrindo espaço para os jovens escritores mineiros.
O prêmio é dividido em quatro categorias: I – Conjunto da Obra (homenagem a um escritor brasileiro em atividade), II – Poesia, III – Ficção e IV – Jovem Escritor Mineiro. Entre os escritores que já foram homenageados na categoria Conjunto da Obra, estão Fábio Lucas (2015), Ferreira Gullar (2013), Rui Mourão (2012), Affonso Ávila (2011), Silviano Santiago (2010), Luís Fernando Veríssimo (2009), Sérgio Sant’Anna (2008) e Antonio Candido (2007).