Obra marca a retomada do selo feminista Rosa dos Tempos, criado por Rose Marie Muraro e Ruth Escobar na década de 90
O Sempre Um Papo e o Circuito CBMM de Cultura celebram o Dia da Mulher, recebendo a filósofa Marcia Tiburi para o debate e o lançamento do livro “Feminismo em Comum: para Todas, Todes e Todos” (Rosa dos Tempos – Grupo Editorial Record).
Para a autora, é preciso retirar o feminismo da seara das polêmicas infindáveis e enfrentá-lo como potência transformadora. A obra apresenta questões, conceitos e desafios que configuram o movimento como a “chave de acesso a um mundo melhor”.
Um dos pontos cruciais desta virada seria a capacidade de pensar dialeticamente o feminismo, abraçando o diálogo e a diversidade. O evento será no dia 9 de março, sexta, no Teatro Municipal, às 19h30, com entrada gratuita.
De acordo com Marcia Tiburi, “cada vez que surge uma nova feminista, um novo coletivo, o feminismo se modifica”. Por isso, segundo ela, essas mudanças e novas práticas precisam ser absorvidas pelo movimento. É o que ela prega em seu manifesto. “Desde o feminismo interseccional, falamos nesses marcadores de opressão junto à raça e à classe. No livro, eu proponho que acrescentemos a questão da plasticidade corporal, deficiências e idade como marcadores que pesam demais sobre as mulheres e que não podem ser esquecidos”, diz.
A obra marca a retomada do selo feminista Rosa dos Tempos, criado por Rose Marie Muraro e Ruth Escobar na década de 1990. A iniciativa do Grupo Editorial Record reúne um coletivo de editoras, gerentes e a vice-presidente da casa, Roberta Machado.
“A Rosa dos Tempos marcou época, foi uma editora importantíssima para a difusão do pensamento feminista internacional e nacional. Além de tudo, a feminista Rose Marie Muraro é um ícone entre nós. E a volta da Rosa dos Tempos, criada por ela, está sendo saudada com alegria por leitoras e leitores de todo o país. O coletivo de editoras que está à frente dessa reinauguração é algo que combina muito com as práticas feministas.”
Trechos do livro:
O feminismo se torna meu gênero, é um nome que dou à minha consciência política e ao espírito do meu corpo.
Todo feminismo se define na capacidade de lutar, até a morte se for o caso, por um outro desejo que nos livre dos sistemas de opressão.
O feminismo se inventa e se reinventa a cada vez que surge uma nova feminista, a cada vez que surge um novo coletivo, a cada vez que as feministas produzem o feminismo que desejam, por meio de teorias e práticas que sempre são, por definição, inadequadas ao patriarcado. O feminismo não é, nesse sentido, um jogo. Ele é muito mais um ritual sem mística realizado contra um ritual místico diário do culto patriarcal ao macho.
O feminismo surge como contraposição ao sistema, mas também como promessa. Contra uma visão de mundo pronta.
O termo feminismo é maltratado enquanto cresce o elogio ao feminino. É como se, ao afirmar-se feminista, uma mulher, ou qualquer pessoa, estivesse indo contra o estado natural das coisas, contra aquilo que é tratado pelo discurso como sendo “a verdade”.
O feminismo é ainda mais do que esclarecimento, crítica e luta. É também a conquista do direito de ser quem se é.
Uma das maiores injustiças do patriarcado – ou a injustiça originária, aquela que se repete todo dia – é não tornar possível a presença das mulheres na história nem permitir que elas ocupem algum espaço de expressão na sociedade.
O feminismo nos dá uma biografia. Ele é a narrativa de si, a autoavaliação crítica e autocrítica das mulheres. A narrativa daquelas pessoas que não tiveram narrativa, que não tiveram direito a uma história. Por meio dessa história que vem sendo construída e que tem um longo caminho pela frente, o feminismo nos dá a chance de nos devolver ao nosso tempo, aos nossos pensamentos, ao nosso corpo.
Marcia Tiburi é autora de obras importantes para o pensamento crítico contemporâneo, tais como: Filosofia prática: ética, vida cotidiana e vida virtual, Como conversar com um fascista: reflexões sobre o cotidiano autoritário brasileiro e Ridículo político: uma investigação sobre o risível, a manipulação da imagem e o esteticamente correto (Record) e Sociedade fissurada: para pensar as drogas e a banalidade do vício (Civilização Brasileira). É colunista da Revista Cult.
“Feminismo Em Comum” – Marcia Tiburi – Páginas: 126 / Preço: R$ 19,90
Rosa dos Tempos / Grupo Editorial Record
Serviço: Sempre Um Papo com Marcia Tiburi em Araxá
Dia 9 de março, sexta-feira, às 19h30, com entrada gratuita
Local: Teatro Municipal de Araxá (Av. Antonio Carlos, S/N, Centro).
Informações: (34) 3691-7011