Além de realizar as atividades acadêmicas prescritas em sua grade de estudos, o estudante trabalhou em pesquisas relacionadas à restauração de estuários
O estudante de Biologia Raphael Ocelli, primeiro aluno do IFMG a participar do programa “Ciência sem Fronteiras”, está de volta ao Brasil. Tendo morado em Nova Orleans, Estados Unidos, o aluno do Campus Bambuí, no Centro Oeste de Minas Gerais, trouxe na mala muita história para contar.
Além de realizar as atividades acadêmicas prescritas em sua grade de estudos, o estudante trabalhou em pesquisas relacionadas à restauração de estuários, ou seja, na manutenção dos ambientes aquáticos de transição entre o rio e o mar.
“Tive a oportunidade de trabalhar em um projeto muito grande, um levantamento nacional sobre restauração de estuários, com o objetivo de aferir quão bem sucedidos eles estavam sendo e como poderiam ser aplicados no estado de Luisiana”, diz Ocelli.
Segundo o estudante, a vida em outro país é muito enriquecedora, mas é preciso ser uma pessoa bastante independente para conseguir superar os desafios e conquistas durante um ano longe de casa.
Diante desse mundo novo e cheio de descobertas, Ocelli teve a oportunidade de desenvolver a fluência nos idiomas inglês e francês e, ainda, ter contato com algo que nunca havia experimentado: a música. “Tudo que eu tinha interesse em fazer, eu tinha oportunidade. Não sabia tocar nenhum instrumento, mas lá eu tive acesso. Frequentei uma escola de música e aprendi a tocar piano”, conta orgulhoso.
No âmbito das metodologias de ensino, Raphael teve a oportunidade de estar em contato com uma prática incomum no Brasil, mas muito utilizada nos EUA, o “office hours” (horário de expediente), momento no qual o estudante pode estar em contato com o professor, de uma forma menos formalizada e de modo que as barreiras entre professor e aluno possam ser quebradas e os dois consigam tratar de assuntos voltados à matéria de estudo.
Sobre a contribuição do programa CSF para o país, Raphael conclui que ele serve para expandir ainda mais a mente dos futuros cientistas brasileiros, possibilitando que estudantes possam enxergar o resto do mundo e toda a sua complexidade.
O retorno para casa tende a ser uma nova adaptação após um ano que oscilou entre momentos de lentidão e velocidade, mas, certamente, diante de tantas experiências, o tempo longe de casa não foi problema. “Ficaria lá mais cinco anos, se o programa se estendesse por esse tempo”!
Reflexos e novas perspectivas de ensino
“O relato de Raphael, após concluir seus estudos na Xavier University, deve provocar uma profunda reflexão em todos os responsáveis pela condução dos cursos de graduação do IFMG”, afirma o pró-reitor de Ensino da Instituição, Washington Silva.
Para ele, “uma das principais finalidades do MEC, Capes e CNPq ao criarem o Programa Ciência sem Fronteiras foi provocar a necessária mudança de paradigma no ensino superior do país”.
“Um exemplo é a declaração do presidente do CNPq que afirmou que o ensino de graduação até nas mais renomadas universidades brasileiras baseia-se em um modelo velho e fossilizado, caracterizado pela imposição de uma carga horária absurda de aulas expositivas e maçantes, enquanto o ocorre o oposto nas melhores universidades mundiais, nas quais alunos possuem uma carga horária em sala de aula muito menor”.
“Essa carga reduzida é compensada pelo envolvimento ativo de todos os estudantes em projetos de pesquisa/inovação (não apenas de bolsistas), em leituras, no estudo prévio para as aulas, na elaboração de ensaios e pela intensa participação em atividades extracurriculares. A multiplicidade de atividades fora da sala de aula tradicional, na qual o aluno é um recipiente vazio a ser preenchido apenas pelo professor, cria o ambiente para que o estudante desenvolva habilidades como capacidade de comunicação oral e escrita e de trabalhar em equipes com pessoas muito diversas. Além disso, exige-se do estudante autonomia e comprometimento com a preparação prévia para as aulas”.
Ainda de acordo com o pró-reitor, as experiências narradas por Raphael, bem como dos próximos alunos que irão retornar, servirão para que todos os setores e órgãos colegiados responsáveis pelos cursos de graduação possam discutir em profundidade novos projetos pedagógicos e suas execuções.
“Ou passamos a ter como referência e meta as melhores práticas de ensino das instituições e sistemas educacionais de classe mundial e tentamos adaptá-las e implantá-las ou corremos sério risco de não prepararmos adequadamente os estudantes para enfrentarem os desafios do mundo atual. O relato do Raphael comprova claramente quais são as diretrizes e melhores práticas executadas nos melhores sistemas educacionais de graduação”, explica.
Já a coordenadora de Formulação e Supervisão de Políticas para o Ensino de Graduação e coordenadora institucional do CsF no IFMG, Antônia Elisabeth Nunes, explica que os docentes constroem os projetos pedagógicos dos cursos de forma que a carga horária na graduação é dominada por aulas expositivas e avaliações de aprendizagem tradicionais, não havendo uma reflexão consistente sobre possíveis inovações que permitam um alinhamento com as melhores práticas de ensino observadas internacionalmente. “O relato de Raphael é oportuno para proporcionarmos um debate com os professores e gestores do IFMG sobre a metodologia de ensino dos docentes e sobre a concepção dos cursos em nossa instituição”, enfatiza Elizabeth.
Ascom IFMG Bambuí