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ARTIGO – Gravidez na adolescência: causas e consequências

Leia o texto da ginecologista e obstetra da Unimed Araxá, Paula Honório de Oliveira

A gestação na adolescência, em sua maioria, é fruto de um conjunto de fatores que desnuda nossa falha enquanto sociedade. A adolescência é um momento de transição da infância para a vida adulta, em que existem muitas incertezas e, quando acontece uma gestação nesse período, é motivo de grande preocupação para a família, os médicos e a sociedade.

A desinformação sobre sexualidade e saúde reprodutiva, mesmo em uma era de grande circulação de informações, além da falta de orientação e diálogo com os familiares, poucas políticas públicas voltadas para a educação sexual, baixo acesso a métodos contraceptivos efetivos, como os de longa duração (DIU, SIU, implante) e doenças sexualmente transmissíveis contribuem para que a gravidez na adolescência aconteça.

A adolescência é caracterizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) pelo período que vai dos 10 aos 19 anos. A gestação, quando ocorre nessa faixa etária, está associada ao agravamento dos problemas socioeconômicos já existentes, à evasão escolar, a maior propensão ao uso de drogas e álcool, associada a infecções sexualmente transmissíveis, além do aumento de complicações maternas, fetais e neonatais, tais como anemia, diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, complicações no parto, baixo peso ao nascer e mortalidade materna.

Um estudo recente, de 2021, realizado pela Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Infanto Puberal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), aponta que, nos últimos anos, o número de gestações na adolescência vem diminuindo. A pesquisa considerou a quantidade de nascidos vivos de mães de 10 a 19 anos de idade, entre 2000 e 2019. No primeiro ano observado, mães adolescentes foram responsáveis por 23,4% do total de nascidos vivos. No último ano do levantamento, o índice caiu para 14,7%, revelando uma queda de 37,2%.

Apesar dessa queda, os dados ainda revelam um número elevado de nascidos vivos entre mães adolescentes. Em 2019, o país teve 19.333 bebês nascidos de mães com até 14 anos de idade e quase 400 mil bebês nascidos de adolescentes entre 15 e 19 anos. O Brasil é um dos campeões mundiais de gestações precoces, com uma média diária de aproximadamente 1.149 crianças nascidas de mães adolescentes. Essa realidade anda lado a lado com o baixo índice socioeconômico identificado nessas gestantes adolescentes.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cada dez jovens adolescentes grávidas ou com filhos, sete são negras e seis não trabalham e não estudam. Ainda somos confrontados com a dura realidade dessas adolescentes, muitas vítimas de violência sexual.

Acompanhamos notícias de adolescentes sendo abusadas e engravidando por mais de uma vez, como o caso visto no Piauí, em setembro de 2022. A cada hora, quatro adolescentes de até 13 anos são estupradas, em sua maioria negras, como informa o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019.

O estudo que mostrou queda nos índices de gestação na adolescência cita alguns exemplos de estratégias para o enfrentamento dessa situação:

• Melhorar a qualidade da educação ofertada na rede de ensino e realizar ações que diminuam a evasão escolar;

• Trabalhar objetivos de vida com os adolescentes;

• Fornecer educação de qualidade visando à sexualidade responsável e ao planejamento familiar;

• Melhorar o acesso aos serviços de saúde para os adolescentes;

• Sensibilizar e capacitar profissionais da saúde para o atendimento de adolescentes e promover reciclagem periódica desses profissionais;

• Garantir o fornecimento de métodos contraceptivos gratuitos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), incluindo os LARCs (DIU, SIU e implante);

• Estabelecer linha de cuidado nas UBS e nas unidades de Programa da Família;

• Promover rodas de conversa com grupos de adolescentes e formar, entre eles, agentes multiplicadores;

Diante desse cenário, percebemos a urgência da sociedade, os gestores públicos e as famílias tomarem consciência de seus papéis e agir no sentido de diminuir os fatores de risco para que a gravidez na adolescência não seja mais tão prevalente em nosso país.

Dra. Paula Honório de Oliveira

Ginecologista e Obstetra – CRMMG 64278 – RQE 43633

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