Técnica inovadora, chamada Compost Barn, possibilita conforto térmico e bem estar para os animais e é disseminada em Patos de Minas
Um novo sistema de produção de vacas leiteiras, pouco comum no Brasil, tem sido adotado com sucesso por produtores de Patos de Minas, no Território Noroeste, e região. Chamada Compost Barn, a técnica consiste na construção de um galpão de descanso para o gado leiteiro. O sistema melhora o conforto e o bem-estar dos animais, aumentando, consequentemente, seus índices de produtividade.
A procura pela técnica é tão grande na região que a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), em Patos de Minas tem promovido periodicamente encontros técnicos com produtores de leite e especialistas para divulgar o Compost Barn e suas especificidades. Um deles ocorreu em abril passado, no município.
Segundo o extensionista da Emater-MG em Patos de Minas, Oswaldo Ferreira, já são 112 produtores em 24 municípios na região com o sistema implantado ou em fase de implantação, totalizando aproximadamente 10 mil vacas leiteiras.
O sistema consiste na construção de um galpão que funciona como uma grande área de cama comum (descanso) para o rebanho. “Este galpão tem que ter pé direito alto, com média de 6m de altura, para favorecer a ventilação, feita também com auxílio de ventiladores industriais”, explica o extensionista.
A ideia é que o gado fique – ao invés de solto no pasto – dentro deste galpão, em cima de uma cama – que deve ser de palha de café ou maravalha, por exemplo. Assim, a compostagem é feita naturalmente dentro do sistema, concentrada em um só local.
“Temos um ambiente controlado termicamente, e onde o gado também recebe alimentação e água. A vaca fica confortável e produz mais”, afirma Ferreira. Segundo o extensionista, o aumento de produtividade pode chegar até a 20%.
O produtor Rubens Caixeta, 42 anos, de Patos de Minas, implantou o sistema há dois anos, com um galpão para cem vacas leiteiras, e acredita que só teve resultados positivos até então. “Trabalho com o leite desde criança, é uma atividade de família, e hoje tenho um produto de muito mais qualidade. O resultado foi imediato, e praticamente não tenho mais doenças no rebanho”, relata.
Para Caixeta, que teve auxílio da Emater-MG na elaboração do projeto técnico e no acesso ao crédito rural, tudo melhorou na produção. “Por exemplo: tinha muita dificuldade para encontrar mão de obra. Agora, com o Compost Barn, que tem uma manutenção muito fácil, sem barro, sem chuva, é fácil contratar. Além disso, no verão minha produção oscilava muito por animal. Esse conforto térmico faz as vacas continuarem produzindo”, comemora. Veja, no vídeo a seguir, como é o galpão do produtor: https://www.youtube.com/watch?v=64yW9-pY9cE
Além de proporcionar conforto térmico aos animais, os ventiladores instalados no espaço também atuam na redução da umidade e na eliminação de gases produzidos pela decomposição da cama, que é composta também pelos dejetos dos animais. É preciso fazer o revolvimento da cama no mínimo duas vezes por dia, para acelerar a aeração do material. Já o recolhimento do composto e a troca da cama podem ser feitos uma vez por ano.
Outro ponto importante é que a área seja calculada para ter, no mínimo, 10m²/animal. A medida ideal, entretanto, é de 15m²/animal. A Emater-MG auxilia na elaboração do projeto técnico do galpão e também econômico, caso o produtor queira ter acesso à linhas de crédito rural.
“Temos opção de crédito para o agricultor familiar, que é nosso público-alvo, com taxa de juros mais baixa e prazo de dez anos para pagamento. Está sendo muito procurada na região. Nosso papel é ensinar a técnica e facilitar o acesso dos produtores ao recurso, caso precisem”, diz Ferreira.
Para o extensionista, porém, a principal vantagem do sistema é a sustentabilidade que ele proporciona. “Na produção tradicional, o gado fica solto no campo, então os dejetos também. Quando chove, o material é levado para os córregos e nascentes. No Compost Barn, o esterco está concentrado ali e será reutilizado no sistema produtivo. É um novo modelo de pecuária de leite no Brasil, que é um avanço e tem muitas vantagens. Acredito que nos próximos dois anos o número de produtores utilizando o sistema aqui na região vai dobrar”, defende.
Vantagens do sistema
Entre as vantagens do Compost Barn estão a redução de problemas de casco do rebanho, a melhoria da qualidade do leite, com redução da contagem de células somáticas (CCS) – que é indicador de saúde do gado e da qualidade do leite –, e menor incidência de mastite bovina, doença que é a maior vilã da produção leiteira.
Com o devido manejo da cama, não ocorre presença de moscas e também não há observação de carrapatos. “Esses resultados são observados porque o gado fica em um ambiente confortável, não sai dali a não ser quando seca a lactação. Isto é, ele fica cerca de dez meses neste galpão e apenas dois meses fora, no pasto”, relata o extensionista da Emater-MG em Patos de Minas, Oswaldo Ferreira.
De olho nessas vantagens e principalmente na diminuição da CCS do seu rebanho, a produtora de Patos de Minas Débora Santos, 28 anos, e seu pai, José Arnoldo, estão implantando o Compost Barn. “Trabalhamos com inseminação artificial há muitos anos, então algumas características do gado muito puro podem abaixar a qualidade do leite. Com condições climáticas controladas, esperamos minimizar ou mesmo eliminar este problema”, diz.
Composto tem alto valor agregado
Outro ponto interessante do sistema é que ele pode gerar uma nova fonte de renda, com a venda do composto orgânico gerado na cama, que pode ser também utilizado na agricultura. “Trata-se de um adubo de excelente qualidade”, destaca Ferreira. A cada ano, o produtor deve fazer a troca da cama, recolhendo o composto de sua parte superior. Este material é rico em nutrientes para o solo e tem alto valor agregado para a agricultura, por exemplo.
O produtor Rubens Caixeta aproveita o composto para repor a palha de café, material que utiliza na cama para o gado. “Os cafeicultores têm bastante interesse neste esterco produzido no Compost Barn, então eu faço a troca com eles, pelo material que utilizo para a reposição da cama”, conta. A sobra ainda é comercializada para uma empresa de compostagem, gerando renda extra ao produtor.