A Metrópole Imaginária conta a história de uma cidade semirrural que encenava uma atmosfera aristocrática para disfarçar a sua decadência
Lançamento de dezembro da editora da UFPR, A Metrópole Imaginária, de André Azevedo da Fonseca (Ed. UFPR, 228 págs., R$ 40), conta a história de um complexo circuito de autoconsagração que as famílias tradicionais de uma cidade semirrural do interior mineiro confabularam, em meados do século XX, para criar a ilusão de que viviam em um centro urbano aristocrático e cosmopolita, prestes a irradiar cultura, elegância e civilização para todo o Brasil. A pesquisa analisou uma dimensão inédita da história de Uberaba, cidade do Triângulo Mineiro, que se autodenominava: “A Princesa do Sertão”.
Para forjar aquele circuito, em uma articulada troca de honrarias, distintivos e homenagens recíprocas, esses atores sociais, conscientes de que deveriam dominar uma série de recursos dramatúrgicos – tais como palcos, cenários, figurinos, poses e discursos –, teceram uma infindável trama de narrativas autocelebratórias e transformaram o noticiário da imprensa local em uma verdadeira ficção consentida.
Contudo, ao lado da aparentemente inofensiva linguagem adocicada das colunas sociais, a obsessão por toda aquela teatralização vai se revelando como uma prática política deliberada para firmar valores, obter consentimentos, distribuir e confirmar papéis sociais, circunscrever os símbolos de prestígio, consagrar figuras públicas, estigmatizar os grupos indesejáveis e, por fim, legitimar as violências físicas e simbólicas perpetradas naquela cidade empobrecida e desigual.
A partir da perspectiva da História Cultural, o livro questiona o ufanismo das versões oficiais sobre a fundação da cidade; explica a dinâmica dos autoelogios circulares manipulados naquelas redes de influência e desmistifica as narrativas que supervalorizam a importância de figuras que atualmente nomeiam praças, ruas e avenidas centrais. A obra oferece uma chave de interpretação para compreender o prestígio monumental dos grupos de poder que, sob o discurso da polidez, da caridade e da elegância, se autorizavam a perpetrar grandes arbitrariedades.
O autor
André Azevedo da Fonseca é professor e pesquisador no Centro de Educação, Comunicação e Artes (CECA) da Universidade Estadual de Londrina. Doutor em História (Unesp), com pós-doutorado no Programa Avançado de Cultura Contemporânea (UFRJ). Foi professor visitante na Universidade Complutense de Madrid, com bolsa da Capes. É autor de Cotidianos Culturais e Outras Histórias (Ed. Uniube, 2004) e A Construção do Mito Mário Palmério (Ed. Unesp, 2012).