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Saúde mental do idoso: entenda os transtornos mais comuns

Leia o artigo do médico Adriano Roberto Tarifa Vicente, geriatra da Unimed Araxá

Um tema muito atual é o envelhecimento populacional e a necessidade de se repensar a atual organização da sociedade para lidar com essa realidade. No Brasil, de acordo com o Censo Demográfico, essa população cresceu de forma rápida e significativa. Em 2022, o total de pessoas com 65 anos ou mais no país chegou a 10,9% da população, com alta de 57,4% frente a 2010.

As enfermidades crônico-degenerativas aumentam sua prevalência com o envelhecimento e, com isto, o uso de medicamentos, recursos humanos e financeiros. É de suma importância o diagnóstico precoce destas enfermidades, a fim de que as doenças exerçam uma pressão menor sobre a qualidade de vida do idoso.

Fatores estressantes externos podem gerar consequências significativas na vida dos idosos, tornando-os mais vulneráveis aos transtornos de adaptação que podem manifestar-se com transtornos mentais afetando o comportamento e as emoções. Contribuem para problemas de saúde mental entre os idosos: isolamento social, morte de pessoas próximas, presença de múltiplas doenças, avanço da idade, além de fatores como a baixa escolaridade e sexo feminino.

Depressão

Os transtornos depressivos são comuns em idosos e a depressão maior é caracterizada por humor triste ou irritável, perda de prazer, alterações no apetite, sono, psicomotricidade e cansaço frequente. Ela afeta cerca de 13% da população brasileira com idade entre 60 e 64 anos, com até 24% dos idosos apresentando sintomas depressivos. A depressão de início tardio ocorre quando o primeiro episódio ocorre após os 60 anos e apresenta um pior prognóstico, com maior cronicidade, mais comorbidades, evidente prejuízo cognitivo e, consequentemente, uma maior mortalidade. Em março de 2020, a pandemia ocasionada pelo coronavírus impôs o isolamento social, fator que impactou de maneira especial a população idosa, uma vez que o distanciamento aumentou a solidão, piorou os índices de distúrbios depressivos, agravou a falta de autocuidado e intensificou outros transtornos.

O tratamento dos transtornos depressivos envolve psicoterapia, atividade física e medicamentos como antidepressivos expondo a efeitos colaterais como boca seca e alterações cardiovasculares como tonteiras e queda de pressão com desmaios, náuseas, anorexia, insônia, perda da libido, agitação, ansiedade, tremor, acatisia, cefaléia e bruxismo, devendo o médico manejar estes problemas.

Ansiedade

Os transtornos de ansiedade são comuns em idosos com taxas de 10% e 15% na comunidade e a associação com fobias, como o medo de cair, são frequentes nessa faixa etária. Pode ter correlações com doenças orgânicas, como alcoolismo, distúrbios de sono e aumento da mortalidade por causas cardiovasculares. Os sintomas ansiosos têm considerável sobreposição com a depressão maior, especialmente transtorno do sono, problemas de concentração, fadiga e sintomas psicomotores ou de excitabilidade.

O uso de medicamentos e algumas doenças como hipertireoidismo podem ser causas de ansiedade. O tratamento envolve antidepressivos, ansiolíticos e, em casos específicos, benzodiazepínicos por curtos períodos. Quadros graves requerem antipsicóticos e estabilizadores de humor.

Bipolaridade

O transtorno de humor bipolar pode afetar 0.1% dos idosos, sendo que apenas 8% dos casos iniciam após os 65 anos. Caracteriza-se pela presença de episódios maníacos com sintomas como autoestima inflada, necessidade reduzida de sono, pressão de fala, pensamentos acelerados, distração, agitação psicomotora e comportamento de risco. Há também episódios depressivos graves intercalados com fases de eutimia (humor normal).

Esquizofrenia

A esquizofrenia é o transtorno psicótico mais conhecido e afeta cerca de 1% da população, sendo uma das doenças mais devastadoras dentro do escopo da saúde mental. Geralmente se manifesta com sintomas psicóticos, preservando o afeto e o funcionamento social. A prevalência de transtornos psicóticos em idosos é estimada entre 5,7% e 6,3%. Alguns pacientes podem estar na fase inicial de um processo demencial e a presença de deficiência sensorial, como a perda auditiva, pode estar relacionada ao surgimento de sintomas psicóticos tardios.

Em sua maioria, são pacientes com baixo autocuidado, polimedicados e com comorbidades e dependência de tabaco muito associada. O tratamento envolve o uso de medicações antipsicóticas, sendo importante ajustar a dosagem e o tempo de uso para evitar efeitos colaterais.

Cuidados

A preocupação com idosos que sofrem de transtornos mentais decorre das múltiplas alterações físicas, emocionais e sociais que as tornam mais suscetíveis à presença de diversas doenças e alterações no estado de saúde que se caracterizam por sua cronicidade e complexidade, o que interfere na qualidade de vida, portanto, requerendo atenção. As doenças mentais dos idosos podem ser curáveis e um tratamento adequado melhora a qualidade de vida proporcionando um bom estado de saúde e este é um dos objetivos básicos do envelhecimento saudável. 

Dr. Adriano Roberto Tarifa Vicente

Especialista em Geriatria pela USP-SP e Clínica Médica

Doutor em Ciências da Saúde pela FIOCRUZ/CPQRR-MG

Formado pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – SP / Geriatria pela USP-SP

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