Dermatologista da Unimed Araxá explica os problemas relacionados ao suor e como é feito o tratamento nestes casos
Nosso suor tem função de regular a temperatura do corpo e de nos dar nosso odor característico. Suamos o tempo todo, mas suamos mais nos exercícios, em situações de estresse e em algumas estações do ano. No verão, por exemplo, um adulto pode perder, em média, entre 2 e 2,5 litros de água pelo suor.
Para entendermos melhor sobre os problemas relacionados ao suor, temos que pensar nas suas duas funções diferentes, para as quais temos dois tipos de glândulas: apócrinas e écrinas. A secreção apócrina é rica em lipídeos, estéril e inodora, mas se torna odorífera quando decomposta por bactérias em ácidos voláteis na superfície da pele; já o suor écrino geralmente não é malcheiroso porque é quase 100% água.
Falando primeiro das glândulas apócrinas, elas estão agrupadas nas axilas, aréolas, genitais, ânus e, modificadas, são encontradas no meato auditivo externo. Tornam-se ativas na adolescência e produzem um suor oleoso e viscoso que supomos que tenha função nas mensagens olfatórias sexuais. O problema mais comum relacionado a elas é a bromidose, que é o odor corporal excessivo ou anormal causado pela decomposição por bactérias e fungos do tipo leveduras das secreções das glândulas sudoríparas e fragmentos celulares. O tratamento é feito controlando essas bactérias e fungos com medicamentos tópicos ou orais, dependendo da gravidade de cada caso e com alguns cuidados, como evitar o consumo de fontes de proteína em excesso, de alimentos ricos em enxofre (lentilha e feijão, por exemplo) e de muito alho, pois eles intensificam o odor desagradável provocado pela transpiração. O fumo também tem esse efeito. Além disso, utilizar roupas com tecidos que facilitam a evaporação do suor e trocar o desodorante por um antitranspirante ajudam. Desodorantes apenas mascaram o odor da transpiração. Já os antitranspirantes reduzem a quantidade de suor liberada pelo corpo.
O outro problema das glândulas apócrinas é a hidradenite supurativa, um processo inflamatório crônico similar à acne grave, que ocorre nas axilas, virilhas e em torno dos mamilos e ânus e que deixa cicatrizes. São formadas massas semelhantes a furúnculos, mas que são frequentemente estéreis. Nos casos crônicos, há dor, flutuação, formação de trajetos fistulosos e drenagem de secreção. Podem ocorrer infecções bacterianas nos abcessos profundos e fístulas. Seu tratamento evoluiu muito nos últimos anos. Temos novos medicamentos e novos procedimentos que têm grande resolutividade e conseguem trazer grande alívio aos pacientes que sofrem com esse problema.
Já as glândulas écrinas são inervadas pelo simpático, distribuídas por todo o corpo e ativas desde o nascimento. Sua secreção é aquosa e elas se destinam a resfriar o corpo em ambientes quentes ou durante a atividade física. O principal problema delas é a hiperidrose, o suor excessivo, que pode ser localizado ou difuso, tendo múltiplas causas. Suar quando se pratica atividades físicas, quando está calor ou em certas situações específicas – como momentos de raiva, nervosismo e medo – é normal, pois ajuda a manter a temperatura do corpo.
Se começa a virar uma constante e o suor vem em grande quantidade, pode ser um alerta para a hiperidrose, que afeta 2% a 3% da população, no entanto, menos de 40% desses consultam um médico. Quando há transpiração extrema, esta pode ser embaraçosa, desconfortável, indutora de ansiedade e se tornar incapacitante. Pode perturbar todos os aspectos da vida de uma pessoa, desde a escolha da carreira e atividades recreativas até relacionamentos, bem-estar emocional e autoimagem.
A hiperidrose costuma não ter uma causa detectável, mas devemos investigar doenças que podem levar ao suor excessivo e podem ser mais graves, sempre, antes de iniciar o tratamento que é feito de acordo com a gravidade e área acometida. Em 90% dos casos, ocorre nas mãos e pés, 9% nas axilas e 1 % no resto do corpo.
Em geral, o tratamento é feito com antiperspirantes tópicos em dosagens maiores, iontoforese, medicamentos orais, toxina botulínica e, em casos extremos, a simpatectomia, que é uma cirurgia. A opção pelo melhor tratamento deve ser feita para cada paciente, sempre pesando riscos, custos e benefícios, mas em geral a resposta é muito boa e melhora muito a qualidade de vida das pessoas que sofrem com essa doença.
Independentemente do caso, se o seu suor é um incômodo muito grande, seja pela quantidade ou pelo odor, o ideal é procurar um médico para que ele faça uma avaliação e recomende o melhor tratamento.
Gisele Basso Esteves Pires
dermatologista